19/04/2024

O ser jovem e os desafios e as perspectivas ao longo dos tempos na relação entre o trabalho e a educação

Por

 
Juliana Aparecida Cruz Martins
(UFSC)
[email protected]
 
Resumo:
Este artigo faz parte de uma pesquisa em andamento e tem como objetivo compreender a relação entre a juventude e o mundo do trabalho. Sendo assim, pretende-se neste texto contextualizar o ser jovem ao longo dos tempos históricos, sob o aspecto da relação entre a educação e o trabalho, traz uma compreensão sobre a configuração histórico-social que determina, limita e possibilita ser jovem no movimento histórico de cada época. Primeiramente, fez-se um estudo sobre o que é juventude, por meio de alguns estudiosos que investigam esta temática. Por fim, mediante alguns textos de Engels, realizou-se uma análise sobre o jovem diante dos impactos da configuração social capitalista e a formação da personalidade desse sujeito no início da Revolução Industrial.
Palavras-chave: educação; trabalho; ser jovem.
Introdução
Neste artigo, pretendemos contextualizar a juventude e sua relação com a sociedade em que vivem. Dessa forma, para exemplificar demos destaque somente para alguns períodos históricos. Foi realizada uma averiguação sobre o que alguns historiadores, sociólogos e psicólogos têm conceituado sobre o que é juventude Em seguida, mediante alguns textos de Engels, realizamos uma análise com relação ao jovem e os impactos da configuração social capitalista na formação da personalidade desse sujeito.
Engels, em [A situação da classe trabalhadora na Inglaterra], relata a vida dos trabalhadores no início da Revolução Industrial na Inglaterra, mesmo sendo um texto datado historicamente é possível perceber muitas características em comum do que presenciamos com relação à questão da intensificação cada vez maior da exploração da força de trabalho, inclusive dos jovens, na sociedade contemporânea no século XXI.
Sendo que, em sua grande maioria a população de jovens têm se dedicado basicamente a configurar-se a determinada qualificação de sua força de trabalho para atender as exigências de desenvolvimento das capacidades humanas para o processo produtivo. Mesmo com conteúdo diferenciado de outras épocas, a forma capital permanece sendo a mesma, gerando cada vez mais o conflito social entre o desenvolvimento das capacidades humanas e a conservação da personalidade particular dessa forma social de desenvolver a vida.
Uma compreensão sobre a juventude
O posicionamento que pretendemos desenvolver neste texto é que entender a juventude na contemporaneidade necessita de uma compreensão da conjuntura histórico-social de períodos históricos que foram decisivos para a humanidade. Umas das obras que trata dessa relação entre ser jovem e conjuntura histórico-social é a História dos Jovens, organizada em dois volumes, pelos historiadores Giovanni Levi e Jean-Claude Schmitt (1996). Nessa obra é possível encontrar textos que possibilitam compreender que ser jovem não é um conceito estático, mas que conforme o contexto histórico-social está em constante movimento e se altera de acordo com os interesses sociais e culturais de determinada época.
Consideramos que, no decorrer do processo histórico, as sociedades assumiram configurações diversas, características que levaram a possibilidade do ser humano se desenvolver parcialmente, como também momentos de autodestruição. Lembramos que a juventude assume, assim, um caráter diverso, conforme a demanda da sociabilidade em que vive exige.
Bourdieu (1983: 113) enfatiza que “[...] a juventude e a velhice não são dados, mas construídos socialmente na luta entre os jovens e os velhos” e as relações entre a idade social e a idade biológica são muito complexas.
Em determinadas circunstâncias históricas a juventude assume certos aspectos e características que lhes são exigidas pela sociedade em que nasceu, e por serem históricas podem se modificar. O que torna o sujeito apto a terminar em outra sociedade economicamente, socialmente e culturalmente diferente daquela em que nasceu. As ‘“circunstâncias’ em que “os homens formulam finalidades, são as relações e situações sócio-humanas, as próprias relações e situações humanas mediatizadas pelas coisas [...] a “circunstância” é a unidade de forças produtivas, estrutura social e formas de pensamento” (Heller, 2008: 11). A juventude corresponde à fase em que determinadas “circunstâncias” permitem ou bloqueiam seu desenvolvimento psíquico-social. Compreende o momento no qual a sociabilidade em que faz parte constrói valores a serem seguidos, independente se positivos ou negativos.
O valor no caso da compreensão sobre a juventude se torna uma categoria fundamental, pois possibilita indagar qual a base geradora do quadro de valores em cada período histórico. O que é considerado um valor positivo ou negativo para o ser jovem na Grécia Antiga? Na Idade Média? No início da Revolução Industrial? Ou para os jovens no século XXI?
Nesse sentido, é possível entender que em cada época histórica com relação ao ser jovem, certas características sociais determinam e propiciam tendências de como se configura o caráter do ser jovem: “A juventude pode ser o momento das tentativas sem futuros, das possibilidades de alternâncias entre os êxitos e fracassos. Momentos de crises, individuais e coletivas, ‘não vamos encontrar sempre os jovens na linha de frente das revoltas e revoluções?’ (Levi; Schmitt, 1996: 12). O entregar-se a uma “causa” torna proporções e conteúdos significativos na história, em certas épocas se concilia com as demandas econômicas, sociais e culturais, que favorecem o desenvolvimento do processo social ou em outras épocas que travam.
Na Grécia Antiga o ser jovem que estava disposto a se entregar a uma “causa”[1] estava ligado diretamente com a formação humana ampla, que possibilitava ao jovem o fortalecimento entre as faixas etárias e classes, que poderiam contribuir para o desenvolvimento da cidade ou da sua destruição. A educação desde a infância contribui para tornar o jovem cidadão útil para escolher de forma ética e moral o melhor para sua pólis.
Em muitos momentos do processo histórico da humanidade o valor moral, enquanto garantia de mostrar para que cada indivíduo necessita cumprir certas atividades que demonstre aos demais ser útil àquela comunidade, nação, etc., conforme seu código de valores se faz presente. Em sociedades em que a atividade militar tinha relevância para a formação humana, o ser jovem que se doa à pátria tem certa honradez, o morrer pela nação “não é algo tão difícil de ser aceito e mesmo desejado, contando que seja grandiosa e bela” (Nizia, 1996: 164), sendo esta característica do jovem que vivenciou o feudalismo durante o século XI e XII.
Tudo depende do contexto social em que o jovem se encontra inserido. Qual o conjunto de valores que essa sociedade preza: “o valor[2] se refere a tudo o que produz a explicitação da essência humana ou a condição para esta explicitação” (Heller, 2008: 20). Nesse momento, consideramos por valores o desenvolvimento das forças produtivas e suas explicitações, que, conforme Heller (2008), a explicitação dessas forças se refere àquela das capacidades humanas, que tem origem com o aumento da quantidade de valores de uso[3] e consequentemente, a diminuição do tempo socialmente necessário para a obtenção dos produtos imediatos para sobrevivência. O desenvolvimento das forças produtivas é a condição necessária para a explicitação universal da essência humana. Nenhum valor conquistado pela humanidade se perde por completo, mas sempre ressurge e só pode sucumbir com a própria humanidade no transcorrer de sua história.
Sendo assim, como entender o papel da história para apreender o conhecimento a propósito do ser humano ao longo dos tempos em relação ao conjunto de valores que são elaborados em cada período histórico? A história enquanto substância[4] da humanidade, considerando que a sociedade é um complexo determinado, com um método de produção, que apresenta classes, camadas, formas mentais e alternativas determinadas.
O sentido da história corresponde ao estabelecimento de possibilidades do desenvolvimento dos valores, sendo que a base se vincula na possibilidade do homem em produzir sua própria essência, elevando-se acima da mera vida animal.
Voltando ao tema da obrigação do valor moral, entendemos que nos diferentes momentos da história ela demonstra a importância do compromisso pessoal, da individualidade e das consequências na escolha entre uma determinada alternativa, que pode resultar para além de sua mera vida cotidiana. Quando essa decisão é a mais perto do certo, o motivo moral se manifesta, representando valores universais. O caminho desse comportamento é a decisão, a concentração de todas as forças na execução da escolha e a vinculação consciente com a situação presenciada e a clareza de suas consequências (Heller, 2008).
Em relação as escolhas e o ser jovem, para Pastoureau (1996) no contexto medieval, por exemplo, o jovem em sua grande maioria é percebido como não pronto para fazer escolhas, conforme aquele momento histórico considerava como “correto” de acordo com seu conjunto de valores morais. O autor contextualiza o entregar-se a uma “causa” no medievo como correspondente à rebeldia, mesmo que em alguns casos isolados essa atitude se relacionasse à possibilidade de contribuir de forma significativa para si como para todo o grupo.
Entende-se por forma significativa ou valor positivo as relações, os produtos, as ações e as ideias sociais que permitem o desenvolvimento de possibilidades de objetivação e organizar universalmente sua liberdade social: “O homem torna-se indivíduo na medida em que produz uma síntese em seu eu, em que transforma conscientemente os objetivos e aspirações sociais em objetivos e aspirações particulares de si mesmo e em que, desse modo, “socializa” sua particularidade” (Heller, 2008: 108).
A partir do conhecimento que o ser jovem se constitui conforme o contexto histórico em que está inserido, e que um conjunto de valores sociais de determinada época se relaciona com a configuração de seu entregar-se a uma “causa”, como em sociedades da Grécia, Roma, etc., é que na continuidade deste estudo salientamos como se constitui a juventude nos primórdios da Revolução Industrial.
Ser jovem diante dos impactos da configuração social via Revolução Industrial
Na Idade Moderna, por exemplo, surge a ideia de que o ser jovem está para além do tempo presente. A esperança traria no futuro melhores condições de vida, trabalhar e aprender possibilitaria ao jovem o futuro de um adulto com autonomia frente aos seus familiares. A vida que em outros tempos se dirigia com ações em que atitudes do indivíduo, perpassavam por toda a comunidade, com a era moderna e consecutivamente com a revolução industrial se limitam na própria vida familiar do jovem e em suas expectativas individuais de sucesso.
Na juventude se internaliza uma grande quantidade de atributos que devem possibilitar uma vida adulta estável, mesmo que as condições sociais da sociedade industrial não sejam as mesmas para todos. Com a Revolução Industrial a relação trabalho e capital instrui a vida do ser humano, desde a infância até a velhice. São idealizados desejos e propósitos como se todos os jovens, independente da classe social a que fazem parte, pudessem concretizar de igual modo.
O presente é negado em prol de um futuro distante que nem sempre atende os propósitos almejados pelo ser jovem, que chega a vida adulta sem muitas expectativas e na velhice se depara com os sonhos frustrados, porque cada o jovem sai do ponto de partida com seu conteúdo de vida, que difere entre si, uns carregados pela frustração de uma educação que manipula, o desespero do desemprego, da falta de moradia, da falta de atendimento à saúde, a arte e a vida humana etc.
Em alguns casos o entregar-se a luta por uma “causa” é o lutar pela pátria, o abrir mão da família, da vida para defender o direito da propriedade privada dos grandes impérios, foi durante as guerras que muitos jovens foram submetidos pelo dito amor à pátria e morrer pela nação.
Ao jovem cabe entregar-se a “causa” na luta pela nação e esse papel social perpassa todos os momentos históricos da humanidade, no entanto, acirra-se com o passar dos tempos e das tendências do sistema baseado na relação trabalho capital. Ou assumindo a luta pela nação, como exemplo têm-se as grandes guerras, ou ainda a luta pelos direitos humanos, visíveis nas décadas de 1960 a 1980.
No contexto da configuração da sociedade industrial o ser jovem é inserido em um ambiente de trabalho, sua vida passa a ser subsumida ao trabalho. A reprodução do ser humano se integra a reprodução do capital e ao jovem da classe trabalhadora cabe o trabalho, a disciplina, a obediência, o tempo na indústria e as altas jornadas de trabalho. O ser jovem passa a constituir mais um dos membros da família que contribui com o sustento do lar. No início da Revolução Industrial, a vida familiar estava concentrada no trabalho e as condições de trabalho eram degradantes ao ser humano.
É possível compreender que a família passa por modificações, de acordo com Engels[5] (2008: 46), que escreve sobre a vida do trabalhador e sua família antes da Revolução Industrial, o corpo e a sensibilidade estavam sob outras condições desiguais, mas que “ganhavam para cobrir suas necessidades e dispunham de tempo para um trabalho sadio em seu jardim ou em seu campo, trabalho que para eles era uma forma de descanso; e podiam, ainda, participar com seus vizinhos de passatempos e distrações”.
Mesmo que já se vivessem em condições desumanas, a Revolução Industrial inaugura um momento de intensificação desta, com a inserção de máquinas na produção, o tempo passa a ser manipulado e cabe ao trabalhador inserir-se no processo produtivo, tanto como corpo quanto a sensibilidade, passam a serem alvos da grande revolução, que modifica por completo a vida humana. Ao retratar a situação da relação entre os proletários e os burgueses, Engels (2008) afirma que muitos burgueses reconheciam que a indústria traz consequências funestas sobre o corpo e o espírito do trabalhador, mas se esses escritores burgueses fossem muito claros sobre o que pensavam poderiam colocar em risco a própria burguesia e sua perpetuação.
As lutas por melhores condições de trabalho e de vida são mais do que debatidas e exigidas pela classe trabalhadora, que devido às contradições existentes entre trabalho e capital em alguns momentos vê na classe industrial inglesa a responsabilidade por essa miséria. No entanto, sempre mais se veem os proletários em uma multidão, presos em grandes cidades vivendo enclausurados em suas individualidades proletárias. Como explica e questiona Engels (2008: 68):
Até mesmo a multidão que se movimenta pelas ruas tem qualquer coisa de repugnante, que revolta a natureza humana. Esses milhares de indivíduos, de todos os lugares e de todas as classes, que se apressam e se empurram, não serão todos eles seres humanos com as mesmas qualidades e capacidades e com o mesmo desejo de serem felizes? E não deverão todos eles, enfim, procurar a felicidade pelos mesmos caminhos e com os mesmos meios? Entretanto, essas pessoas se cruzam como se nada tivessem em comum, como se nada tivessem a realizar uma com a outra e entre elas só existe o tácito acordo pelo qual cada uma só utiliza uma parte do passeio para que as duas correntes da multidão que caminham em direções opostas não impeçam seu movimento mútuo – e ninguém pensa em conceder ao outro sequer um olhar.
Se não fosse a data, o texto de Engels (2008) seria para essa geração, ou seja, da contemporaneidade do século XXI que vivemos, porém o autor demonstra na escrita à situação do trabalhador na Inglaterra. Considerando que o capitalismo no decorrer dos tempos só se aperfeiçoou e ampliou seus domínios, esse e tantos relatos de Engels do proletário inglês que vive na pré-revolução industrial se tornam atuais. O autor prossegue destacando que a vida do trabalhador era curta e a mudança repentina nas condições de vida traz mudanças significativas, no que corresponde o ser jovem e ser família na configuração que exigia a sociedade sob a perspectiva industrial, a ordem social que torna quase impossível a vida familiar:
[...] E quem pode esperar que crianças e jovens que crescem como selvagens, em meios degradados e com pais muitas vezes também eles degradados, quem pode esperar que se tornem adultos moralmente bem formados? De fato, as exigências que o burguês, do alto de sua olímpica auto-satisfação, faz ao operário são demasiado ingênuas (Engels, 2008: 167).
E assim o que é ser jovem nas condições sociais da sociabilidade capitalista, considerando a gênese de sua trajetória enquanto sistema de produção que predomina e desenvolve cada vez mais aparatos que possibilita sua permanência, na intensificação cada vez maior da exploração da força de trabalho da classe trabalhadora. Nessa sociabilidade o entregar-se a uma “causa” quando não mobiliza o ser jovem para a construção de ações e estratégias revolucionárias, o mobilizam todos os dias para a luta da sobrevivência, que no início da Revolução Industrial na Inglaterra nem esta garantia o trabalhador jovem possuía.
Quais sentimentos e quais capacidades humanas pode conservar à altura dos trinta anos aquele que desde jovem trabalhou doze ou mais horas por dia, fabricando cabeças de pregos ou limando rodas dentadas e vivendo nas condições de um proletário inglês? (Engels, 2008: 158).
E essa complexidade que envolve nos ditames nebulosos da lógica capitalista, ser criança, ser jovem, ser adulto ou ser velho é ser força de trabalho, apta para atender os objetivos de produção. Portanto as fragilidades da sociedade capitalista abrem lacunas para o surgimento de questionamentos sobre essas condições, permitindo abrir caminhos “para a formação de concepções próprias dos operários e adequadas à sua posição no mundo; eles começam a dar-se conta de que são oprimidos e adquirem importância política e social” (Engels, 2008: 160).
Esclarecidos relatos de Engels (2008) nos remetem para o início da Revolução Industrial, em que o capital impõe de forma direta e violenta seus tentáculos sobre a vida humana. A busca por maior valorização de capital, sustentação, perpetuação de seu sistema em todo o globo são motivos de aumentar a velocidade da máquina, a jornada de trabalho, sem considerar as condições espirituais e físicas desses jovens. Inicia-se, assim, um processo que, para a alegria de acumular lucros para poucos, custa a brutalidade e opressão para a vida de muitos trabalhadores sem propriedade, sem meios para conquistar sua sobrevivência.
Os jovens recebem conteúdos diversos desde aquele que possibilita desenvolver capacidades que permitem descobertas cada vez mais avançadas para a grande indústria, até aqueles que são explorados nos meios rurais na busca de matérias primas para alimentar a grande indústria, a grande maioria ainda permanece na mesma forma de organizar a vida e, de alguma forma, necessitam alimentar o capital para permitir sua valorização. Mas a classe trabalhadora, os jovens, não se calam diante dessa situação e ao longo da história muitas manifestações e revoluções aconteceram em todo mundo.
De acordo com Lukács (2013: 817):
Bem indicativas dessa situação são as revoltas estudantis, que – paralelamente aos acontecimentos políticos descritos – cresceram a ponto de se tornarem um movimento internacional de massas. [...] deve estar claro para cada observador mais ou menos imparcial que seu ponto de partida original foi o desconforto espiritual-moral da juventude com a divisão do trabalho manipulado do saber, cuja consequência seria a sua educação para um “idiotismo especializado”.
Lukács (2013) com razão afirma que a educação desses jovens resultou em um “idiotismo especializado”. De um lado, esse pensamento, descrito por Lukács em um período da década de 1970, ainda é muito presente na história, em que muitos jovens têm intenção em modificar a sua condição de “tédio” causada pela própria organização da sociabilidade capitalista, no entanto, o que se percebe é que em sua grande maioria as lutas mobilizadas pelos jovens nem sempre têm um foco, ou ações e estratégias muito claras. Por outro lado, Lukács (2013) destaca o ser jovem que se entrega a “causa” de cunho social, isso é perceptível na juventude entusiasta, dos movimentos jovens frequentes que acentuam a própria juventude como valor central.
Portanto, a necessidade de dar prosseguimento a esse estudo é notável, sabemos que a forma capital, ainda permanece a base dessa sociedade. E que no decorrer de seu processo histórico tem se metamorfoseado, transformando a vida dos jovens da classe trabalhadora de acordo com os objetivos da sociedade do capital.
Considerações Finais
No decorrer do processo histórico o conteúdo da sociabilidade para o ser jovem está quase sempre ligado ao desenvolvimento do processo produtivo, nesse caso conhecer a história que o constitui enquanto vendedor de força de trabalho, as políticas governamentais que sustentam esta exploração se tornam, cada vez mais, essenciais. Essa contextualização histórica nos permitiu compreender que em cada período histórico o ser jovem estava movido por alguma alternativa construída socialmente, que a sociedade o qual vivia conforme sua configuração social os colocava diante de si.
Portanto, percebe-se que com a Revolução Industrial o afastamento do ser jovem dos interesses para o que movia as grandes realizações a que correspondia atender uma grande “causa” para além dos círculos familiares passam a ser cada vez mais voltados para atender os interesses de ser jovem trabalhador. Mesmo que os jovens tenham possibilidades, as que o capital prioriza são o desenvolvimento das capacidades humanas e não o da personalidade humana. Personalidade essa que corresponde a gerar formas e ações que mobilizem a transformação social, com conteúdo histórico-social, para além da mera forma capital de vida.
Mediante estas incongruências, limites e ao mesmo tempo possibilidades de compreensões para além dessa sociedade, é que necessitamos dar sequência a este estudo, analisando o complexo do ser jovem, nessa sociabilidade, em que contexto e de que maneira e formas são travadas as lutas entre a consciência individual e as contradições sociais e como compreender que sob a base do trabalho na forma abstrata será possível que os processos de educação consigam promover estratégias e ações que possibilitem a transformação social.
Referências Bibliográficas
Bourdieu, Pierre. “A “Juventude” é apenas uma palavra”. En: Questões de sociologia. Editora Marco Zero Limitada. Rio de Janeiro: 1983. p. 112-121.
Engels, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2008.
Heller, Agnes. O cotidiano e a história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008.
Levi, Giovanni; Schmitt, Jean-Claude. História dos jovens. São Paulo (SP): Cia. das Letras, 1996. 1 v. Da antiguidade a era moderna.
Lukács, György. Para uma ontologia do ser social I. São Paulo: Boitempo, 2013.
Nizia Marchello –Christiane. “Cavalaria e cortesia” in: LEVI, Giovanni; SCHMITT, Jean-Claude. História dos jovens. São Paulo (SP): Cia. das Letras, 1996. 1 v. Da antiguidade a era moderna. p. 141-187.
Pastoureau, Michel. “Os emblemas da juventude: atributos e representações dos jovens na imagem medieval” in: LEVI, Giovanni; SCHMITT, Jean-Claude. História dos jovens. São Paulo (SP): Cia. das Letras, 1996. 1 v. Da antiguidade a era moderna. p. 245-263.
 


[1] Na entrega a uma “causa”, é precisamente esta que desempenha o papel determinante mais importante, mas, para ser corretamente entendida, ela jamais poderá ser concebida em termos apenas formais. O aspecto não formal externa-se nisto: “se e em que medida uma entrega é capaz de provocar a elevação do homem acima de sua particularidade e de inflamar uma paixão duradoura” (Lukács, 2013: 783).
[2] Heller (2008) não se refere ao valor a partir do trabalho abstrato.
[3] Segundo Lukács (2013: 107), “Disso se segue que podemos considerar o valor de uso como uma forma objetiva de objetividade social. Sua socialidade está fundada no trabalho: a imensa maioria dos valores de uso surge a partir do trabalho, mediante a transformação dos objetos, das circunstâncias, da atividade etc. dos objetos naturais, e esse processo, enquanto afastamento das barreiras naturais, com o desenvolvimento do trabalho, com a sua socialização, se desdobra sempre mais, tanto em extensão como em profundidade”.
[4] “A substância é aquilo que, na contínua mudança das coisas, mudando ela mesma, pode conservar-se em sua continuidade. No entanto, esse dinâmico conservar-se não está necessariamente ligado a uma “eternidade”. As substâncias podem surgir e perecer, sem que com isso deixem de ser substâncias – desde que se mantenham dinamicamente durante o tempo da sua existência” (Lukács, 2013: 122).
[5] Texto A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, escrito por Friedrich Engels no ano de 1845.

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